SEGURANÇA ALIMENTAR 18f1f






Foto: Ascom Sesma
Único na Região Norte e referência no tratamento nutricional de crianças com Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), o programa da Prefeitura de Belém, coordenado pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), completa 19 anos de atuação nesta quinta-feira, 12. A iniciativa garante, de forma gratuita, fórmulas alimentares especiais para crianças com diagnóstico confirmado de APLV – uma condição que pode causar reações graves e comprometer o crescimento saudável na primeira infância.

Com atendimento centralizado na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Fátima, o programa reúne uma equipe multiprofissional composta por nutricionistas, assistentes sociais, farmacêuticas e enfermeiras, oferecendo não apenas o fornecimento das fórmulas, mas um acompanhamento clínico-nutricional permanente, desde o acolhimento até a alta da criança.
“O programa não é feito apenas para entregar lata de leite. Há uma escuta qualificada, triagem, atendimento com nutricionista, prontuário de acompanhamento e retorno regular. A gente conhece cada criança que a pelo programa”, explica a assistente social Liane Lopes, que integra o programa desde sua implantação em Belém.
Apoio que transforma realidades
Atualmente, o programa acompanha 265 crianças diagnosticadas com APLV, além de outras seis com alergias alimentares mais complexas. Os atendimentos contemplam bebês desde o nascimento até os 2 anos de idade, moradores de todos os distritos istrativos de Belém.
O impacto na vida das famílias é visível, especialmente para aquelas que não teriam condições de custear o tratamento por conta própria.
Samanta Froés, mãe do pequeno Theo, de apenas sete meses, relata com emoção a importância do apoio recebido.“O Theo usa cerca de 15 latas por mês. Se tivéssemos que comprar, seriam mais de R$ 4 mil todo mês, o que é impossível para a nossa realidade. Com o programa, recebo as fórmulas e consigo garantir a alimentação certa para o meu filho. Tem sido uma ajuda imensa”, contou.

Wanessa Soares, mãe do Manoel, de 1 ano e 2 meses, também destaca a evolução do filho após o acompanhamento no programa. Manoel nasceu prematuro, com apenas 30 semanas, e logo foi diagnosticado com APLV. “A médica explicou que bebês prematuros têm mais chances de ter essa alergia, mas, com o tempo, podem melhorar. E o Manoel já está bem melhor. Acredito que até os dois anos ele não precise mais das fórmulas”, afirma.
Ela também elogia o cuidado da equipe. “Desde que entrei no programa, sempre fui muito bem atendida. A nutricionista acompanha de perto, pergunta como ele está, se está evoluindo. Me sinto segura e acolhida aqui.

Reestruturação e regularização do fornecimento
Após um período de instabilidade no fornecimento das fórmulas entre 2023 e 2024, que gerou insegurança alimentar para muitas crianças, a atual gestão municipal regularizou o abastecimento a partir de fevereiro deste ano. A retomada foi possível após o pagamento de dívidas herdadas com fornecedores e o fortalecimento da gestão do programa, com revisão de contratos e articulação para garantir a regularidade no abastecimento das fórmulas.
“Foram dois anos muito difíceis. A gente precisou fracionar a entrega para tentar atender, nem que fosse minimamente a todas as crianças que são atendidas pelo programa, porque as fórmulas simplesmente não chegavam. Começamos 2025 sem nada em estoque. Os últimos quatro meses do ano ado foi especialmente caótico”, lembra Antônia Nóbrega, nutricionista que atua no programa.
Hoje, o fornecimento está estabilizado. Por mês, são distribuídas cerca de 1.800 latas de fórmulas especiais, com investimento 100% municipal. O custo médio de cada lata gira em torno de R$ 300,00, valor que seria inível para a maioria das famílias atendidas.
Amanda Souza, mãe do pequeno Marvin, também vivenciou de perto os desafios causados pela interrupção do fornecimento e ressalta o alívio com a retomada do abastecimento regular. “O leite ficou em falta por muito tempo no ano ado. Eu só conseguia uma ou duas latas, quando o ideal seriam oito. Foi um período muito difícil. Tive que arriscar e oferecer leite de soja, mesmo sabendo que ele podia ter reação. E teve – ele ficou com dificuldade para evacuar. Mas era a única opção naquele momento. Como mãe, a gente faz o que pode para não deixar faltar, mesmo com medo das consequências”, relembra Amanda, emocionada.

Atendimento humanizado e referência no Norte
Mesmo diante das dificuldades enfrentadas nos últimos anos, o Programa APLV é considerado modelo entre os municípios da Região Norte e mantém uma abordagem integral, onde o cuidado ultraa a entrega do leite. Cada criança atendida possui um plano nutricional individualizado, com revisão a cada três meses a partir de laudos médicos atualizados. “Estamos retomando políticas que estavam paralisadas e reorganizando os serviços para garantir um atendimento mais eficiente e acolhedor. A nutrição precisa ser uma ferramenta real de cuidado integral na rede pública”, afirma a nutricionista Tamires Albuquerque, coordenadora da Referência Técnica em Nutrição da Sesma.
Para entrar no programa, o responsável pela criança precisa levar um laudo médico com o diagnóstico de APLV, que pode ser feito por um médico da rede pública ou particular, até a Unidade de Saúde de Fátima. Lá, a equipe faz uma triagem e uma entrevista para entender qual fórmula é mais adequada. Depois disso, se estiver tudo certo, a família já pode sair com as latas de leite. Também dá pra fazer o pedido indo direto à Secretaria de Saúde (Sesma), por meio de protocolo.
O que causa a alergia ao leite de vaca e como ela afeta a criança
A alergia à proteína do leite de vaca acontece quando o corpo da criança reage de forma exagerada às proteínas do leite, que são partes do alimento que o corpo pode entender como “perigosas”. Isso faz a criança sentir vários sintomas que podem deixar ela doente e atrapalhar seu crescimento.
Os sintomas mais comuns são dores na barriga, cólica, diarreia, vômitos, refluxo, prisão de ventre e até sangue nas fezes. A criança também pode ter coceira, vermelhidão na pele, irritação e problemas para respirar, como tosse e chiado no peito.
Em casos mais sérios, pode acontecer uma reação forte e rápida chamada anafilaxia, que é perigosa e precisa de atendimento médico urgente.
Por isso, é muito importante que essas crianças tenham um acompanhamento médico e nutricional especial.