EDUCAÇÃO E SAÚDE AMBIENTAL 7162s





Foto: Mayara Coqueiro/Ascom Semec
“Esse é um projeto que vai muito além da sala de aula. É saúde, é ciência, é protagonismo estudantil. Aqui, eles não apenas aprendem — eles fazem, constroem, pesquisam. Eles são os autores do próprio saber”. A declaração da professora Ana Brígida Santos, coordenadora da iniciativa que vem transformando a rotina da Escola Municipal Alzira Pernambuco, no bairro do Marco, resume a essência do projeto.
Formada em Biologia e com mais de 30 anos de experiência docente, Ana lidera um trabalho que une ciência, cidadania e sustentabilidade, despertando nos estudantes o interesse pela pesquisa desde cedo. Nos corredores da escola, alunos do ensino fundamental deixaram os cadernos de lado por um momento para, com garrafas pet, filó e arroz, construírem armadilhas ecológicas contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
É o início de uma jornada científica real, onde eles aprendem fazendo e entendem, na prática, como educação ambiental e saúde pública caminham juntas.
Saber que se constrói na prática 5o614o
“A fêmea deposita os ovos no fundo da garrafa. Em cerca de dez dias, viram larvas, depois pupas e, por fim, mosquitos adultos. A gente anota tudo: o local da armadilha, a data e o que encontramos — ovos, larvas, pupas ou o mosquito mesmo”, explica Ayme da Silva, uma das alunas participantes.
Os dados coletados são organizados e enviados para análise em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisadores utilizam inteligência computacional para identificar espécies e o sexo dos insetos com base no som das asas. Além da captura dos mosquitos, os alunos aprendem a aplicar o método científico: observam, fazem hipóteses, experimentam, analisam e registram. No fim, recebem o título de pesquisadores mirins, uma conquista simbólica, mas de grande valor formativo.
Alunos como cientistas: “A gente aprende e ensina” 21614
Para o estudante Alberto Miguel Evaristo, participar do projeto mudou sua forma de enxergar o ambiente e reforça o impacto que isso teve em sua rotina. “Montamos a armadilha atrás da escola, perto da quadra, onde tem mais mato. Descobrimos que até um copinho jogado pode virar criadouro. Agora a gente já sabe onde olhar e como agir. E leva isso pra casa também”, conta empolgado.
Esse efeito multiplicador também inclui a conscientização ambiental e é um dos maiores ganhos do projeto: os alunos se tornam agentes de mudança nas próprias comunidades, compartilhando conhecimento, eliminando focos do mosquito e incentivando a prevenção. A escola se torna, assim, um centro de ciência cidadã, promovendo conhecimento prático e relevante.
Tecnologia ível, ciência transformadora
A armadilha é feita com materiais recicláveis e também pode ser equipada com sensores capazes de captar o som das asas dos mosquitos. Essa tecnologia, desenvolvida por pesquisadores da USP, amplia ainda mais o alcance do projeto, permitindo mapear focos de infestação em tempo real.
E o trabalho não para por aí: a próxima etapa prevê a produção de repelentes naturais a partir das descobertas dos alunos, promovendo soluções íveis e sustentáveis para a própria comunidade.
Para a professora Ana Brígida, o diferencial está em ensinar ciência pela vivência. “O aluno aprende o método científico com base em algo real. Ele observa, experimenta, compreende o impacto do que está estudando. Isso forma não apenas estudantes melhores, mas cidadãos mais conscientes”, reforça a professora.
Mais do que uma aula de Biologia, a iniciativa promove educação ativa e ciência cidadã. Ao incluir temas como reaproveitamento de óleo de cozinha, incentivo à presença feminina na ciência e responsabilidade social, a escola se transforma em um verdadeiro laboratório de inovação e transformação social.
Com uma abordagem que valoriza a vivência, o engajamento e a curiosidade, a Escola Alzira Pernambuco mostra que é possível formar pequenos cientistas capazes de fazer grandes mudanças. E, principalmente, reforça que a educação pública pode — e deve — ser um espaço de protagonismo, propósito e impacto real na vida das pessoas.